LP duplo Amy Winehouse - Live at Glastonbury 2007
De raro em raro uma personalidade explosiva reescreve a história da música popular. Foi o que ocorreu com a cantora londrina Amy Jade Winehouse (1983-2011), considerada a precursora da Nova Invasão da Música Britânica e responsável pela ressurreição da soul music nos anos 2000. O inédito em vinil “Live at Glastonbury 2007” exibe a devastadora performance da cantora no Pyramid Stage do festival que a consagraria em definitivo. Aos 24 anos, a bordo de um contralto poderoso, sombra negra sublinhando os olhos, roupa invariavelmente curta, um monumental penteado colmeia, Amy, literalmente, sacudiu o planeta.
Segundo o site Big Rock N’ Roll, seu segundo disco, “Back to black”, foi o mais vendido do mundo em 2007, com seis milhões de cópias. No Grammy Awards do ano seguinte, ela passou o rodo: cinco troféus, a mais premiada de seu país até então. Filha de um motorista de taxi e cantor amador, ela se inspirou na avó, Cynthia, que a criou após o divórcio dos pais e incentivou sua vocação.
Seu primeiro disco, “Frank”, de 2003, tinha um viés jazzístico e algumas músicas admitidas no show de Glanstombury. Uma delas, “Cherry”, uma bossa pop com Amy em tom coloquial. A outra é “Fuck me pumps”, de letra explícita, como promete o título. “Frank” vendeu três milhões de cópias (60 mil no Brasil, Disco de Ouro) e valeu a comparação com divas negras como Erika Badu, Macy Gray e até Billie Holiday.
Mas a virada viria com o seguinte “Back to black”, cujo repertório é a base da apoteótica apresentação de Glanstonbury. As turbulências pessoais inspiraram o roteiro. Em especial, a separação do companheiro, Blake Fielder-Civil, responsável por sua imersão em drogas mais pesadas. A faixa- título, “Back to Black”, com Amy brandindo a voz amarfanhada, é de arrepiar. Embora sugira o duplo sentido de assinalar a volta da black music, a letra crava o fim do romance com o ex-namorado. A também confessional “You no I’m no good” (“eu chorei por você no chão da cozinha”) agita uma balada soul clássica, fisgada por sopros, como a desiludida “Love is a losing game” (“o amor é um jogo perdido/ que eu gostaria de nunca ter jogado”).
O repertório tem ainda dois covers, “Cupid” (1961), do papa soul Sam Cooke em levada reggae, e “Valerie” (2006) do grupo Zutons, apoiada em pontuação incisiva de baixo e suporte de teclados, onde Amy solta o vozeirão no final abrasivo do show, iniciado pela invocada autoral “Addicted”: “Diga a seu namorado/ para comprar sua própria erva e não usar a minha”. Em “Tears dry on their own”, a letra alfineta: “Eu tinha que ser a minha melhor amiga/ e não ficar louca por causa de caras idiotas”.
Piano doo-wop, citações de mestres soul como Ray Charles, a autoral “Rehab” com seu refrão poderoso (“Eles tentaram me fazer ir para a reabilitação/ mas eu disse não, não, não”) é o maior sucesso da cantora, e também seu libelo contra as forças que acabariam derrotando seu corpo. Embora a alma de sua arte permaneça cada vez mais viva.
por Tárik de Souza
LP duplo preto do Clube Universal.
TRACKLIST
DISCO 01
Addicted
Just Friends
Tears Dry On Their Own
He Can Only Hold Her
Cherry
Back To Black
Wake Up Alone
Love Is A Losing Game
DISCO 02
F*ck Me Pumps
Cupid
Hey Little Rich Girl
Monkey Man
You Know I'm No Good
Rehab
Me & Mr Jones
Valerie