LP ALAÍDE COSTA - AMIGA DE VERDADE - NOVO - VINIL PRETO
*DISCO NOVO DE ÉPOCA DO ACERVO DA PRÓPRIA ARTISTA
Com arranjo, piano e teclados do próprio Gilson Peranzzetta, “Amiga de verdade” (Gilson Peranzzetta e Aldir Blanc) tem letra evocando a cantora e compositora Maysa, como se ela se materializasse na audição. Os seguintes versos atestam isso: “e então, na consagração da noite perdida, espero em vão que você diga, que eu sou, serei, a tua verdadeira amiga...”.
O piano conduz a voz da Alaíde para outra dimensão. Sobra para o ouvinte, que fica exaurido com a (alta) carga dramática da voz dela (e isso é ótimo).“Quem sabe” (Elton Medeiros e Paulinho da Viola) conta com a participação vocal do próprio Paulinho. A letra fala do término de um relacionamento: “sem nada, nem no peito qualquer mágoa, sem rancor e sem saudade, venho agora te dizer adeus”. Alaíde espreme o nosso coração. Até surgir o príncipe Paulinho da Viola, reconstruindo-o. A flauta de Marcelo Bernardes é essencial para essa canção. No fim, tudo é aparentemente simples: arranjo econômico – piano, violão e flauta – e duas belas vozes satisfazendo o ouvinte.
“Estrada do sertão” (João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho) ganhou uma versão arrebatadora, onde a voz dela te invade sem pedir licença. Sebastião Tapajós brilha no violão. Essa faixa é um dos momentos mais bonitos desse disco: arranjo e interpretação impecáveis, beirando o sublime. Uma observação: entre as muitas regravações dessa canção, destacam-se as das cantoras Elba Ramalho, Mônica Salmaso e Teca Calazans.
Em “Teus olhos, meu lugar” (Toninho Horta e Ronaldo Bastos) podemos notar mais claramente ainda a densidade e a grandeza da voz da Alaíde, que necessita de canções como essa. Nana Caymmi se encaixaria perfeitamente nessa música. O som do violão de Toninho Horta acaricia o ouvinte.
“Cinema antigo” (Sueli Costa e Cacaso) ganhou só a voz (e que voz) da Alaíde e o piano (belo) de Wagner Tiso. “Quero apenas a promessa do seu beijo, quero apenas um vintém do seu amor”: quem ousaria negar isso a essa cantora? Wagner ainda dá uma aula gratuita de piano. A cantora, compositora, pianista e arranjadora carioca Delia Fischer deveria urgentemente fazer um arranjo para essa canção.
“Bela bela” (Milton Nascimento e Ferreira Gullar) ganhou a participação (vocal) mais do que especial de Milton Nascimento. O arranjo cresce e o andamento muda com a entrada (na segunda parte) da voz do Milton. Resultado: duas das melhores vozes da nossa música popular brasileira ao bel prazer do ouvinte, então, se lambuze. João Baptista (baixo), Jurim Moreira (bateria) e Heitor T.P. (violão e guitarra) não brincam em serviço.
Uma faixa que se destaca muito no conjunto da obra: “Absinto” (Fátima Guedes) mostra que as composições de Fátima Guedes, mais a voz da Alaíde, beiram algo entre o sobrenatural e o sublime. Atentem para esse trecho divino (tarefa ingrata quando falamos da obra da Fátima): “eu bebo, quando fico assim desesperada, quem me dera ficar apaixonada, pra encontrar o outro lado do moinho”. O sax soprano de Zé Nogueira ganha merecido destaque. A voz da Alaíde capta a essência da letra. Também conta com “Eu te odeio” (Fátima Guedes) como música incidental.
“Choro das águas” (Ivan Lins e Vitor Martins) tem o arranjo, teclados e participação de Ivan Lins (cantando). “Esse meu choro é o choro das águas, que lava as telhas, que rola nas calhas, que pinga nas bicas e deságua na gente, afoga esse coração”: pra cantar esses versos lindos, doídos e exagerados, tem que saber o que está fazendo. Alaíde é professora de canto. É a melhor faixa do disco.
“Morrer de amor” (Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini) ganhou interpretação que vem do âmago. MPB-4 participa (interessante). Os teclados de Gilson Peranzzetta dão angústia. Essa faixa destroça o coração do ouvinte (o que já vinha sendo feito desde o começo da audição desse disco). A participação do MPB-4 ajuda (muito) a potencializar a tristeza embutida nessa canção.
“Mais que a paixão” (Egberto Gismonti e João Carlos Pádua) é bem íntima (dá essa impressão nitidamente). Talvez pelo fato de contar só com o piano de Egberto. “Do meu coração, que bate, rebate e grita, geme, chora e se agita, sambando nas cordas bambas de uma viola vadia, vadia”. Pra audição tornar-se perfeita, basta o ouvinte entregar o próprio coração numa bandeja. Essa música também deu título ao disco que Wanderleia lançou em 1978. Delia Fischer (de novo ela por aqui) deveria cantá-la, afinal, tem bastante afinidade com o autor (seu último disco é o “Saudações Egberto").
Gravadora: Pan Produções Artísticas
Catálogo: 103.0739-PE
Ano: 1988
Artista: Alaíde Costa
Faixas:
1. Amiga de Verdade (Gilson Peranzzetta/Aldir Blanc)
2. Quem Sabe (Élton Medeiros/Paulinho da Viola)
Participação: Paulinho da Viola
3. Estrada do Sertão (João Pernambuco/Hermínio Bello de Carvalho)
4. Teus Olhos Meu Lugar (Toninho Horta/Ronaldo Bastos)
5. Cinema Antigo (Sueli Costa/Cacaso)
6. Bela Bela (Milton Nascimento/Ferreira Gullar)
Participação: Milton Nascimento
7. Absinto (Fátima Guedes)
Mus. Inc. ``Eu Te Odeio`` (Fátima Guedes)
8. Choro das Águas (Ivan Lins/Vítor Martins)
Participação: Ivan Lins
9. Morrer de Amor (Oscar Castro Neves/Luvercy Fiorini)
Participação: MPB4
10. Mais Que A Paixão (Egberto Gismonti/João Carlos Pádua)